Introspecção


Que sou eu? Um pequeno ser humano. De mísero e pequeno eu não passo. Um corpo, jogado num pedaço de terra esperando chegar a hora. Sempre ela, a hora que vem ao meu encontro. Não faço nada para chegar até ela, mas eu sei que ela não vai me deixar escapar. Aliás, não faz essa proeza jamais, não poupa ninguém. Essa hora vem acompanhada de dois jardins: um queimado e devastado pelo vento da discórdia, e outro regado por uma leve brisa de compreensão.
Tento todos os dias prever a chegada da hora, pois ela assombra, e eu gostaria de estar mais preparada para sua chegada, gostaria de fazer uma recepção. Não sei ao certo se é dor, medo, frustração, mas essa incompreensão diante deste encontro me deixa estagnada num precipício que não se vê o fundo. É uma agonia incomensurável, e não tem fim.
Ao invés de me preocupar com as coisas rotineiras do dia a dia, eu só consigo ver o vazio, o sentimento de perda sem ao menos ter me desfeito de qualquer coisa que seja.
Perda de mim, perda dos meus anseios, das minhas aspirações, das minhas glórias e dos meus conceitos. E ao mesmo tempo me sinto tão cheia a ponto de explodir.
O vazio que o anseio pela chegada da hora me proporciona, é infindável e incontrolável. Por vezes durante o dia, me deparo com os pensamentos incansáveis do fim, da perda e do vazio. Isso tudo é muito oco e não se vê nada, por que além de tudo, é fosco e deformado.
Sou apenas um pedaço de coisa, uma coisinha. Sou tão frágil ao planeta, ao ciclo, a imensidão das coisas duráveis, que me vejo completamente mortal. E é isso que me faz inquieta e infeliz. A mortalidade a que estou sujeita. E parece que nada jamais vai poder fazer isso mudar. E não pode mesmo, nada muda, e a mim, nada conforta.

Um comentário:

  1. Numa profunda introspecção encontro-me agora, na inutil tentativa de comentar este escrito. So tenho a dizer: CARAMBA! Você se supera a cada reflexão, a cada escrito... nada do que eu disser aqui refletira' fielmente a grandeza do seu intelecto. Te admiro, menininha.

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