Acontece?

Como de costume, aqui estou novamente. Sozinha, largada, esquecida num buraco onde muitas pessoas são largadas; um buraco em que muitos gostam de jogá-las. Aqui estou, com o peito entreaberto, sangrando, mentindo, querendo me convencer de que não é culpa minha, querendo me dizer que não fui eu quem correu atrás; querendo dizer pra mim que simplesmente ACONTECE.
Eu não deveria estar admitindo que simplesmente "acontece". Não deveria admitir que eu simplesmente mereço; que eu simplesmente já estou "acostumada", que isso é passageiro. Eu deveria me indignar, deveria brigar, deveria falar poucas e boas e deveria me revoltar com tudo e com todos. No entanto, estou aqui de novo; caída, quieta, adormecida e entorpecida desse êxtase da solidão. Novamente deixada no buraco da tristeza. Novamente tentando falar o que eu deveria fazer mas simplesmente admitindo que eu não faço nada, apenas continuo com os mesmos erros e passos apressados, sem querer enxergar onde estou passando e para onde estou indo.
Definitivamente, isso não faz sentido algum. Ao mesmo tempo que medito sobre a situação, chego ao fundo do poço, sim; bem lá no fundo do poço onde podemos encontrar nossa essência, onde podemos descobrir porquê estamos aqui. No entanto, eu só consigo ficar desesperada, ansiosa, tentando compreender a vastidão dos sentimentos mundanos, e acima de tudo, tentando entender porquê eu sempre chego ao mesmo ponto, o ponto de partida que é também o ponto final, o ponto do tchau.
Porquê? Porquê... Não há resposta; o eco da minha voz simplesmente não responde, ele só grita, soa e se apaga no ar. Não não não, não pode, não entendo, não quero, não consigo ficar assim, PORQUÊ? É isso. Parece que vicia perguntar, vicia chorar, vicia entristecer e isso tudo acaba afastando justamente quem mais preciso do lado. Eu simplesmente fico no mesmo ponto, pendurada, no buraco, batendo nas paredes desse poço, e em cada batida um novo berro, um novo suspiro, uma palavra diferente, simplesmente solidão.