O Silêncio


Ele que tão dolorosamente pode fazer você respirar. Que é capaz de curar todas as dores, quando acompanhado de muita reflexão, e que também pode dilacerar, cortar, rasgar quando se espera por uma resposta. Quem entende a imensidão do silêncio? E isso que é tão necessário...
O silêncio é um corrompedor de expressões, o silêncio que tem milhares de faces, e nelas estampa um semblante acinzentado. Quem nunca usou do silêncio para proferir uma resposta? Tão importante ouvir uma pessoa em silêncio, e mais ainda silenciar quando uma pessoa precisa de um conforto. As vezes o silêncio mais precisa de um abraço do que um sentido.
Combater o silêncio de nada adianta. Pois ele sempre vai vir quando você menos espera, e quando você mais precisa.
Tão quieto e manso, o silêncio simplesmente se completa, substitui muitas palavras, estas que geralmente são muito faladas, mas pouco sentido têm.
Gosto de dizer que o silêncio é um momento de reflexão da alma. Quem, em algum momento, não preferiu ficar em silêncio e refletir sobre alguma coisa que te aflige? Quem muitas vezes não preferiu o silêncio de alguém, acompanhado apenas de um olhar sereno e um abraço apertado? Essa sem dúvida é a melhor face do silêncio.
Mas nada seria do silêncio, se palavras que ferem não tivessem sido pronunciadas antes dele. Nada seria do silêncio, se ele fosse sozinho, sem antes nem depois, não teria sentido, e o doce mistério que o cerca seria um óbvio oco.

Introspecção


Que sou eu? Um pequeno ser humano. De mísero e pequeno eu não passo. Um corpo, jogado num pedaço de terra esperando chegar a hora. Sempre ela, a hora que vem ao meu encontro. Não faço nada para chegar até ela, mas eu sei que ela não vai me deixar escapar. Aliás, não faz essa proeza jamais, não poupa ninguém. Essa hora vem acompanhada de dois jardins: um queimado e devastado pelo vento da discórdia, e outro regado por uma leve brisa de compreensão.
Tento todos os dias prever a chegada da hora, pois ela assombra, e eu gostaria de estar mais preparada para sua chegada, gostaria de fazer uma recepção. Não sei ao certo se é dor, medo, frustração, mas essa incompreensão diante deste encontro me deixa estagnada num precipício que não se vê o fundo. É uma agonia incomensurável, e não tem fim.
Ao invés de me preocupar com as coisas rotineiras do dia a dia, eu só consigo ver o vazio, o sentimento de perda sem ao menos ter me desfeito de qualquer coisa que seja.
Perda de mim, perda dos meus anseios, das minhas aspirações, das minhas glórias e dos meus conceitos. E ao mesmo tempo me sinto tão cheia a ponto de explodir.
O vazio que o anseio pela chegada da hora me proporciona, é infindável e incontrolável. Por vezes durante o dia, me deparo com os pensamentos incansáveis do fim, da perda e do vazio. Isso tudo é muito oco e não se vê nada, por que além de tudo, é fosco e deformado.
Sou apenas um pedaço de coisa, uma coisinha. Sou tão frágil ao planeta, ao ciclo, a imensidão das coisas duráveis, que me vejo completamente mortal. E é isso que me faz inquieta e infeliz. A mortalidade a que estou sujeita. E parece que nada jamais vai poder fazer isso mudar. E não pode mesmo, nada muda, e a mim, nada conforta.

O Medo


O ser humano é passível de medo. O medo aflige as pessoas de uma forma sem igual, e ele vem de várias coisas diferentes, ou às vezes não vem de nada. Ele simplesmente existe e está ali, suspenso sobre nossas cabeças, assolando nossos pensamentos e nos tornando sensíveis e fracos.
Ele grita com uma voz aguda e ao mesmo tempo muda aos nossos ouvidos, fala coisas sem razão, uma sobre a outra, a ponto que não conseguimos chegar a entender uma palavra se quer, ele é assim, devastador e inquieto.
Dominar seus medos é importante, mas vamos aqui detalhar os costumes do medo.
Medo é ruim, é doloroso, é sem sentido, é desordem, é falta de senso, é crueldade com nosso ser, com nossa mente fraca e passiva às tentações. O medo assombra, como um fantasma, e muitas vezes, temos medo de ter medo! Ora, quem tem medo de ter medo, tem pânico de medo, pânico é medo, é ansiedade, ou seja, medo é ansiedade aguda, é uma coisa incontrolável à nossa mente, porém por vezes podemos não demonstrar o medo que consome nosso ser.
Quem não tem medo, não sabe o que é viver. Viver é estar ali para que o medo te tente à deixar de fazer algo que se tem vontade ou que se tem que fazer. E o medo é feito para testar nossas vontades também.
O medo cria essa consciência de vida, por temer perder essa vida, por mais mísera que seja, nos entregamos ao medo e deixamos que o acaso faça aquilo que por medo deixamos de fazer, mas muitas vezes o acaso não dá conta, e nos deparamos com a frustração de termos cedido ao medo.
Ceder ao medo, é desistir de si próprio por um momento. E isso vai acabar fazendo a vida desistir de você.

Desordem da vida


O que é a vida? Quem foi que inventou essa história de nascer, crescer, e depois ainda temos que morrer... Já não bastasse o sofrimento de ter que reagir às atrocidades da vida, ainda temos que ter algum jeito de morrer. Acidentes, doenças, velhice... Pois é, nascemos bebês chatos, berrentos e carecas, que incomodam a noite inteira e não conseguem nem se quer se limpar... Depois, crescemos um pouquinho, e já somos crianças chatas, que correm por todos os lugares, descabelam os pais e enrugam as mães. Crianças que quebram tudo, brigam, fazem macaquices e isso até quando aprendem a mentir e chantagear! Mas isso nem é o pior, e depois? Quando viramos adolescentes. Oh céus, essa é a pior fase. Ficamos rebeldes, desunidos, desordenados, loucos e revolucionários, nos achamos donos do mundo e de todas as razões. E quem ousar dizer que não o somos, vai pro buraco também! Mas depois vem a época que mais dura. A idade adulta. Onde surgem os problemas, a falta de dinheiro, a falta de amor, a falta de tudo, tudo falta e nunca se tem o suficiente, aí ficamos loucos, mesmo que não aparentamos, ficamos totalmente fora de nós. Fazemos tempestades em copo d'água e muitas vezes arrumamos desculpas para o que não se tem desculpa. E por final, passamos à velhice. Doenças, falta de força, falta de ânimo muitas vezes, desgostos, implicâncias, cabelo branco, sem cabelo...
Pois é, a vida pode ser mesmo muito ruim. Pelo tanto de coisas que passamos, desgostos, brigas, dificuldades, criancices, deveríamos viver no mínimo mais uns 100 anos além da média de vida. Mas não é possível. Vivemos só um tanto de anos, e acabou-se o que era doce. Morremos derrepente, como se nada do que fizemos, nada do que sofremos, valesse à pena o suficiente para que pudéssemos viver mais. Quem foi que inventou isso?! Dizem muitos que foi Deus. Outros dizem que ninguém inventou isso, que isso se deu ao acaso, à evolução, ao big bang. Mas seja lá quem foi, foi muito esperto. Isso tudo não passa de uma charada! Um teste. Uma pegadinha que foi muito bem planejada. Como aquelas pegadinhas de televisão, que você passa por um lugar, acontece alguma coisa e o telespectador fica esperando para ver a sua reação. E é assim que funciona, na vida, acontecem várias coisas, ao mesmo tempo que nós somos testados, testamos outras pessoas, como os bebês e crianças que dão trabalho, testando seus pais, e ao mesmo tempo aprendendo a ser testados. Aprendendo a sobreviver neste mundo cercado de pessoas ruins, de situações perigosas, mas até as pessoas ruins são ruins porque não suportaram ser testadas.
Mas o que devemos fazer diante de tanta pressão? Com certeza desistir não devemos. A vida é assim mesmo, nunca mudou e nunca vai mudar, não importam os padrões da sociedade, o estilo de vida que veio mudando com o passar dos séculos, o ciclo continuará igual, as pessoas continuaram do mesmo jeito, sempre haverão situações adversas, boas e ruins, oportunidades, desgraças, vitórias e principalmente derrotas. Só que às vezes somos fracos demais. E é aí que está o problema: essa fraqueza desordenada e sem o mínimo de beleza. Devemos ser fortes e aprender a superar os testes do mundo, e fazer diferente, reagir, ser alguém, ter um pensamento, ter inteligência suficiente e principalmente curtir a vida. Apesar de ter muitos e muitos pontos negativos, de sermos chatos quando pequenos, adultos e idosos, e convivermos com pessoas assim, há motivos para sorrir, e devemos enxergá-los e mostrar aos demais o quão linda pode ser a vida e quão feliz podemos ser. Porque se a cada dia que levantarmos da cama, esboçarmos um mal humor, nossos dias serão ruins, tristes e solitários, porque estaremos despreparados para o mundo, enquanto poderíamos acordar e sorrir, e passar isso a diante. Com certeza, estaríamos mais fortes e preparados para viver.